sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Shakeaspeare

"Muito antes de morrer, morre o covarde; só uma vez o homem forte prova a morte. Das coisas raras de que tenho ciência, sempre me pareceu a mais estranha terem os homens medo, embora saibam que a morte, um fim a todos necessário, vem quando vem." Shakeaspeare em Julio Cesar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

2pac



2pac - where we do go from here [interlude]

poder ... poder ...
estamos em 94, o que vem agora ?

poder ... entre no meu mundo!

Eu acho que esse sera foda para os manos verdadeiros
Eu juro que esses invejosos não sentirão o gostinho do poder
Não tem nada bom na quebrada
Pelo menos não no meu lado, onde eu permaneço
E a lei? Foda-se a lei!
Os manos devem pensar longe, pisar longe, e continuamente ser superior.
Que se foda a lei, de qualquer modo
Palavra chave em 94 é "lá em baixo"
Tenho que estar lutando
Eu vejo como os ricos tomam deles
Mano eu sou legitimo, porra
Para onde vamos a partir daqui?
Quem ta com medo da policia comédia?
Para os meus manos correndo nas ruas, foda-se a paz
Heyy manos, onde está o seu coração?
Veja uns putos matando bebes, mantando suas maes
matando crianças, colocando isso tudo na porra de suas marcas
Agora qual o tipo de truque misturado poderia matar o futuro de nossa raça,
antes que ele tenha que olhar nos olhos de seus inimigos mortos, e abrir fogo?
Esses malucos do caralho tem armas como se fossem brinquedos
Cadeias por arma, mas continuamos sem empregos
e eles se perguntam por que estamos loucos
Pra onde vamos daqui?
Pra onde vamos?
Todos manos fora daqui
As nuvens balançaram, o mundo ouviu
Ficamos juntos em abril de 92
Com direito e sendo de honra
Não existe limite para o que nós podemos conquistar
É tudo com agente, com agente...
Não meu mano, não os brancos, não os inimigos
Ou nenhum desses filha da puta, NÓS
O que NÓS podemos fazer? Porra
Eu declaro sentença de morte para todos molestadores de crianças
Putas falsas, homem ou mulher
E todos vocês que são caquetas
Nós podemos sem vocês seus comédias
E que nenhum homem quebre o que nós lançamos
Pra onde vamos daqui?

Descanse em paz Cato, sinto sua falta
Todos outros Gangsters verdadeiros que se foram em 93
Em 94, e mais
O que vamos fazer? Por nós?

PS: Alguns termos eu tentei aproximar ao maximo mas mesmo assim podem haver erros de tradução.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Schopenhauer


Com respeito a cada um em particular, a história de uma existência é sempre a história de um sofri­mento, porque toda a carreira percorrida é uma série ininterrupta de reveses e de des­graças, que cada um procura ocultar porque sabe que longe de inspirar aos outros simpatia ou piedade, dá-lhes enorme satis­fação, de tal modo se comprazem em pen­sar nos desgostos alheios a que escapam naquele momento; — é raro que um homem no fim da vida, sendo ao mesmo tempo sincero e ponderado, deseje recomeçar o caminho, e não prefira infinitamente o nada absoluto.
Trecho de "As Dores do Mundo - Schopenhauer"

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Complexo de Pancrácio


Tempo do ser-vil - o complexo de pancrácio

Luis Alberto Helsinger*
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro
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RESUMO
Enfatiza a relação entre perversão e cultura, através do aspecto servil. Usa-se o conto de Machado de Assis sobre o fim da escravidão no Brasil como exemplo de servilismo, chamado por Machado e pelo autor de O complexo de Pancrácio.
Palavras-chave: Perversão, Tempo, Escravidão, Servilismo
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I - Introdução

Em primeiro lugar agradeço à Comissão Científica do CPMG por este convite para participar deste evento. Agradeço também ao CNPq pela bolsa de pesquisa de Doutorado em Teoria Psicanalítica.
Na constelação múltipla de co-memoração (co-memória) dos 500 anos do Brasil, diversidades temáticas vibram em diferentes disciplinas tais como a História, Antropologia, Sociologia, Literatura, Dança, Música, que produzem e reproduzem, às vezes criando novas descobertas com articulações originais sobre a idéia de Brasil. É possível, segundo minha hipótese, buscar vislumbrar, a partir de alguns novos impasses da clínica psicanalítica, algumas especificidades que podem vir a ser teorizadas como Psicanálise Brasileira, através do tempo SERVIL.
Neste trabalho opto por enfocar a força de DOMINAÇÃO e SERVIDÃO, acentuando a questão do Brasil como o último país a libertar os seus escravos.
Através desta linha enfatizo a problemá-tica do TEMPO-GOZO-SERVIL em época de globalização.

II - Colonização-escravidão

No clássico Casa-Grande Senzala, Gilberto Freire
1 assinala uma repetição, uma insistência que se apresenta com tal regularidade que lhe permite afirmar a existência de um destino comum e estrutural aos vínculos de dominação, de escravidão: A história do contato das raças chamadas 'superiores' com as consideradas 'inferiores' é sempre a mesma. Extermínio ou Degradação. Principalmente porque o vencedor entende de impor ao povo submetido a sua cultura moral inteira, maciça, sem transigência que suavize a imposição.
Por intermédio de hipotéticas superioridades, são exercidas excelentes conquistas humanas, assim como altas perversidades, pois o admitido como inferior arca com a responsabilidade de servir exploradamente para manter a continuidade da fictícia superioridade de seus opressores, à custa de graves aviltamentos dos valores básicos que compõem o tecido social, tal como o senso de justiça, que amiúde os colonizadores aplicavam fazendo justiça com as próprias mãos. Legitimados por sistemas políticos e militares, estes impõem aos dominados uma vida livre só para servir aos senhores, senão morrem...

John Hope Franklin2 postula que os europeus estavam persuadidos não só de que eram capazes de construir uma civilização que fosse superior em todos os aspectos como também de que eles próprios eram superiores a quaisquer de seus contemporâneos. Segundo Franklin, o contato dos europeus com os africanos, que começou na metade do século XVI, afetou as relações entre negros e brancos, dessa época até os nossos dias. Além de o negro ser posicionado como inferior, também sua cor foi sendo associada a servidão, símbolo da baixeza e do mal, signo de perigo e de repulsa. Colocados como pagãos, selvagens, lascivos e libidinosos, com sexualidade fora de controle, eles representavam o mal, sendo por isso considerados população inferior que devia ser contratada para escravidão permanente, como bem ilustra o autor.

Além da dominação pela força direta, forças políticas, culturais e até científicas se unem para explorar a mão-de-obra constituída pelos inferiores a ponto de a escravidão quase ser colocada como a melhor, senão a única, condição de sobrevivência para tais seres coisificados, nascidos para servir aos Senhores Civilizados Elitistas. Havia trabalhos científicos que apontavam traços anatômicos que confirmavam os negros como adequados à escravidão; um exemplo era a capacidade interna média do crânio do negro que tinha menos 200cm3 do que a do anglo-saxão. Segundo Franklin, um naturalista de Harvard (Agassiz) declara que o desenvolvimento do cérebro do adulto negro nunca chegava além do que se observava no caucasiano infantil.
A ideologia da supremacia branca teria encontrado uma raça para servi-la, à força, legitimada pela legislação escravista e legalidades supostamente científicas, assim como moral-religiosas. Negros-escravos-africanos, não iguais perante a lei, submetidos à lei do mais forte, do predador, da lei indiferente da Natureza que destrói a presa sem culpa, ideal de lei dos senhores libertinos gozadores de SADE; carne para ser gozada.

Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade venderam promessas, algumas realizadas, mas não foram garantidoras de cidadania. Restaram aos pobres inferiores, escravizados, os caprichos da vontade soberana absolutista dos elitistas, senhores civilizados e civilizadores.
As sociedades de classes que precederam o capitalismo, segundo Suret-Canale3, caracterizavam-se por uma ligação pessoal do dominador com o dominado (escravo, tributário, servo, etc). O dominado é explorado de forma brutal mas tinha dever de proteção por parte do dominador, até mesmo de assistência, sob máscara patriarcal. Com o capitalismo as relações sociais tomam caráter cada vez mais abstrato, anônimo, e por isso desumanizado. Ascensão dos delegados capatazes.

O dominado coisificado para servir no progressivo ideal capitalista, que visa o lucro, eis que com a promessa da mão-de-obra dita livre, supostamente liberta das obrigações e servidões feudais e senhoriais, vê-se desprovida de quaisquer meios de existência (sem terra, sem proteção, sem o chicote visível do senhor), viram progressivamente os libertos e expropriados na massa crescente de vagabundos e miseráveis livres para se venderem, livres para escolher um novo dominador nas mesmas bases, com uma diferença: produção do novo escravo que se crê livre. Livre do chicote visível, desigual perante a Lei do Patrão.

A escravidão só será abolida em:
1833 - nas colônias inglesas
1848 - nas colônias francesas
1866 - nos Estados Unidos
1886 - em Cuba (colônia espanhola)
1888 - no Brasil.

No eixo da economia servil e do capitalismo, Philippe Paraine4 denuncia que a riqueza da Europa conquistadora, berço do Capital, foi construída sobre a exploração e extermínio dos ameríndios e sobre povos costeiros da África ocidental (três séculos de tráfico, ou seja, de 1510 a mais ou menos 1850), sendo que as receitas da economia servil representavam para as grandes potências mais da metade dos lucros de exportação e em 1800 custaram a vida de mais de 30 milhões de seres humanos.

Sem defender a hipocrisia civilizatória Carl Peters cita Marc Ferro5: O objetivo da colonização é enriquecer sem escrúpulos e com decisão nosso próprio povo, às custas de outros povos mais fracos (Alemanha-Tanzânia hoje - 1884).

Além da necessidade de disciplinar o homem livre para o trabalho assalariado, não se extinguiu com leis o conjunto de ideologias de superioridades que escravizam corpos e subjetividades. Certas argumentações hipócritas persistem em ideologias racistas, em totalitarismos, legitimando o poder de uma suposta superior elite econômica, intelectual, moral, científica e religiosa com argumentações semelhantes: o prazer de dominar, humilhar, provocar dor e lucrar, gozar sadicamente, travestidos da nobreza civilizatória os impulsos cruéis mais vis.

Não bastava mais só dominar, explorar, libertar para poder dominar mais e sem tanto ônus, era preciso lucrar mais e mais rápido. Viotti da Costa6 assinala que a máquina realizava em menos tempo e com mais eficiência o trabalho anteriormente realizado por um grande número de escravos. Quanto mais corpo maquínico, obediência automática e subjetividade comandada por botões e controles remotos da vontade dos novos senhores, mais possível é a permanência do novo servo, do novo escravo sobreviver ainda como coisa, propriedade na indústria, empresa, campos do senhor. Os sujeitos que sabem obedecer sem reclamar, que se submetem de boa vontade e celebram sua liberdade de ser explorados, podem subir nas novas empresas, em presas vivas, carnes para gozo das novas caças; diversificadas promessas excessivas de liberdade, insisto, o novo escravo ideal se crê livre.

Como superar a escravidão à medida que as feridas da instituição servil, com novas demandas de mão-de-obra livre, especializada, técnica, maquínica, excluíam grande parte da população, marginalizada de novo, em outros moldes, pelas elites conservadoras hegemônicas?
Nossos bravos e heróicos abolicionistas - tal como Nabuco7 8, citado por Toledo Machado9 - gritavam pela democracia rural: Eu, pois, se for eleito, não separarei mais as duas questões - a da emancipação dos escravos e a da democratização do solo. Uma é complemento da outra. Acabar com a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão. Destruir a obra da escravidão, segundo a autora, significava enfrentar o nó da questão nacional, franqueando acesso das populações não-brancas, numericamente majoritárias no país, à propriedade e à cidadania.

A partir da estrutura narrativa da Dominação-Servidão encontramos algo que se repete amiúde:

1. concentração de Poder nas mãos de poucos elitistas (políticos-militares-intelectuais, empresas); 2. ideologias de superioridade cultural, moral, sexual, religiosa e racial para legitimar a exploração e o abuso;
3. transformação do conquistado em instrumento, em máquina, em coisa;
4. progressiva oferta de liberdades conquistadas por lutas e resistências, mas também viabilizadas por novas necessidades de produção e eficácia do lucro em novas condições históricas;
5. produção de populações marginalizadas potencialmente servis;
6. cidadanias não alcançadas de acordo com os ideais democráticos, não funcionando a lei como igual para todos;
7. expressivas manifestações de resistência cultural dos dominados através da música, literatura, dança, às vezes, como show exótico;
8. identificação com os agressores-capatazes TIRANOS;
9. ascensão dos capatazes e anonimato dos novos senhores (TIRANETES - segundo La Boétie);
10. demanda de servidão dos novos escravos travestidos de mão-de-obra livre;
11. concentração de Poder-Riquezas nas mãos de muito poucos e produção de populações marginalizadas servis, com aumento de criminalidade, drogas, terrorismo;
12. a mentalidade do colonizador, dominador, não é erradicada só com leis novas;
13. a mentalidade do colonizado dominado, servo, também não é erradicada só com novas leis;
14. a dimensão do prazer, da excitação, do gozo do explorador não aparece explicitamente mas travestida de necessidades civilizatórias;
15. as maiores perversidades são executadas, hipocritamente legitimadas por motivações econômicas, científicas, religiosas e políticas.

Sabendo que o Brasil não é para principiantes10, vou eleger como uma de suas raízes11 uma possibilidade de articular uma questão que emerge da clínica psicanalítica não só no Brasil, mas que no nosso país ganha avatares especiais devido à instituição da escravidão: O TEMPO DO SER-VIL - A FUNÇÃO DO SERVO.

III - O tempo do ser-vil - a função do servo

A concepção do Tempo do Ser-vil (pesquisa que vem sendo desenvolvida no Doutorado em Teoria Psicanalítica da UFRJ), de forma extremamente resumida aqui, pode ser assim formulada (após o desenvolvimento da concepção do Tempo do Gozo e a Gozação - A Temporalidade na Perversão)12.

Temos, por intermédio da literatura mal-dita dos textos (escritos no cárcere) do Marquês de Sade13, um modelo de estrutura narrativa poderosa não só para os estudos da estrutura clínica da perversão, das perversidades sociais e institucionais, mas uma questão crucial neste momento cultural e econômico globalizado.

"A virtude é a Moral dos Tolos" (?)
Diante das continuadas descrenças nas ruínas de certos valores iluministas de progresso, desenvolvimento, encontramos progressivamete fraturas nas células básicas norteadoras das instituições que cimentam e costuram as bases no tecido cultural civilizatório.

Tanto a idéia de família, educação, política sofreram corrosões nas suas bases legitimadoras a ponto das progressivas manifestações de busca de prazer a qualquer custo, busca de poder independente dos meios virtuosos, indiferença a laços previamente garantidores de confiança e amparo. Processos globalizados midiáticos com ofertas de ideais de espetáculos individuais e coletivos que até uma guerra vira show.

Ameaças de desemprego constantes.
Falta de segurança mínima urbana.
Falta de tempo para cultivo de relações apesar das ofertas high-tech de eliminação de tempo e espaço para comunicação.
Lazer programado, contido, delimitado.
Velocidades de capital volátil que migram poderosamente mais fortes que certos produtos internos brutos, alterando a idéia de soberania nacional.
O mercado é livre e o narcotráfico se acha também.
Vendem-se drogas, lava-se dinheiro, consomem-se drogas lícitas e ilícitas por sujeitos impelidos a terem que responder ao novo senhor invisível e onipresente: O MERCADO É LIVRE!

Podemos observar no novo mal-estar da cultura sujeitos que antes tinham algum projeto de subjetividade honesta de profissão, de família, de esporte, lazer e sofrerem um empuxo progressivo para transgressões num salve-se quem puder, vendendo-se e sendo vendidos como mercadoria, trabalhando para concentração de riquezas de quem? Para o gozo de quem? Servos de quem?

A própria psicanálise como instituição presta sua repetição de mentalidade colonizado no Brasil, ao se importar em demasia como o importar é o que importa.

Há mais críticas e hostilidades entre as instituições psicanalíticas brasileiras do que questionamento dos textos dos colonizadores para gozo da geopolítica internacional de Psicanálise.
No país de carnavais, malandros e heróis, onde nossos negros em maioria estão em favelas e prisões, permanece uma obra inacabada da escravidão: a idéia dos feudos, dos senhores, dos coronéis, dos capatazes, do servilismo, do exercício da crueldade hipócrita em nome de ideais civilizatórios.

Cria-se dependência dos favores pessoais, da ótica clientelista, latifundiária, da exclusão da maioria acentuando a concentração de poder, riqueza e gozo nas mãos de poucos, transformando o gozo dos plenos direitos em pleno direito ao gozo.

Como no Castello de Silling, onde quatro senhores debochados, em Os 120 Dias de Sodoma, executavam suas paixões criminosas, na sua casa-grande, tempo do SER-VIL.

IV - "O complexo de pancrácio"

Ainda bem que contamos com Machado de Assis14 no nosso querido Brasil. Em um de seus contos, um senhor libertou, antes da lei, seu escravo Pancrácio, que merece aqui na Psicanálise brasileira, segundo minha investigação, ser elevado à categoria de complexo, o complexo de Pancrácio.

Antecipando-se à Lei de 13 de Maio, o proprietário de Pancrácio oferece um jantar, a algumas pessoas, quando então eleva a taça de champanhe e restitui a liberdade a esse escravo, já que alforriá-lo era nada; perdido por mil, perdido por mil e quinhentos.

Após dizer a Pancrácio que ele estava livre, que podia ir para onde quisesse, mas também oferecendo-lhe a casa amiga, já conhecida, e um ordenado, Pancrácio exclama: Oh! meu senhô! Fico.

(...) que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu. (19.05.1888).

Nas diferentes relações do sujeito brasileiro com as leis, com as representações do servilismo e na grande corrida globalizada, temos riscos de aumento progressivo de justiças pelas próprias mãos nas populações marginalizadas, assim como na nova classe de criminalidade que atinge setores da classe média e alta, no empuxo para ser-vil. Servir ao lucro, ao sucesso, a hightech midiática promovendo a valorização dos novos corpos e subjetividades clean, sem depressões, sem queixas, narcotizados com tranqüilizantes e antidepressivos, correndo, trabalhando, no mercado-livre, concentrando renda, de quem? És livre, podes ir... Oh! meu senhô! Fico!.

Bibliografia

ANDRÉ DE SOUZA, E.L. Psicanálise e colonização. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
BOURDIEU, P. (coord). A miséria do mundo. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 300 p.
FERRO, M. História das colonizações. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
FRANKLIN, J.H. Raça e história: ensaios selecionados. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
FREUD, S. El malestar en la cultura, in Obras completas, tomo III, 3. ed., Madrid: Biblioteca Nueva, 1973.
_______. La moral sexual cultural y la nerviosidad moderna, in Obras completas, v. IX, Argentina: Amorrortu, 1989.
FREYRE, G. M. Casa grande senzala. 12. ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1963.
HELSINGER, L.A. A Função do Servo no Gozo dos Pobres Diabos. Trabalho apresentado no XVIII Congresso Latino-Americano de Psicanálise, Rio de Janeiro, 1989. RESUMO publicado in Gradiva, n. 49, ano XIV, 1991.
HOBSBAWN, E. A era da capital. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
KARASCH, M.C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
LACAN, J. O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
_______. Kant com Sade, p. 744-770. in: Escritos II, 15. ed. México: Siglo Veintiuno, 1989. 900 p.
MELMAN, C. e outros. Um inconsciente pós-colonial se é que ele existe. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000.
MIRES, F. El malestar en la barbárie. Venezuela: Nueva Sociedad, 1998.
PARAINE, P. PENAULT, G. (org.) O livro negro do capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.
SENNET, Richard. A corrosão do caráter. Ed.Record, RJ, 1999.
SURET-CANA E, J. "As origens do capitalismo"; (séc. XV a XIX), in PENAULJ, J. (org.), O livro negro do capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

* Médico. Psicanalista. Membro efetivo com funções didáticas da SBPRJ. Mestre e Doutor em Teoria Psicanalítica - UFRJ. Bolsista do CNPq
1 FREYRE, Gilberto de Melo. Casa-grande & senzala, 1963, p.168.
2 FRANKLIN, John Hope. Raça e história: ensaios selecionados, 1999, p.394.
3 SURET-CANALE, J. "As origens do capitalismo" (séculos XV a XIX), 1999, p.26, in: O livro negro do capitalismo.
4 PARAINE, P. O Livro Negro do Capitalismo, p.49
5 FERRO, Marc. História das colonizações, p. 109, 1996.
6 VIOTTI DA COSTA, Emilia. Da senzala à colônia. São Paulo: UNESP, 1998, p.34.
7 NABUCO, Joaquim. A escravidão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
8 NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1999.
9 TOLEDO MACHADO, Maria Helena Pereira. Um País em Busca de Moldura, in: Confronto de culturas: conquista, resistência, transformação. (América 500 anos, v.7) Expressão e Cultura. São Paulo: EDUSP, 1995. 371p.
10 DRUMMOND, J. A e outros (org.). O Brasil não é para principiantes. Rio de Janeiro: Edit. FGV, 2000.
11 BUARQUE DE HOLANDA, S. Raízes do Brasil. 26.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
12HELSINGER, L.A. O tempo do gozo e a gozação: a temporalidade na perversão: Freud, Lacan, Sade, Genet. Rio de Janeiro: Revan, 1996. 230 p.
13 SADE, Marquês de. Os 120 dias de Sodoma. 6. ed. São Paulo: Aquarius, 1983.
14 ASSIS, Machado de. Fuga do hospício e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1998.

Fonte: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Chica da Silva

Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva, foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda metade do século XVIII. Manteve durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira tendo com ele treze filhos.

O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos. De acordo com a imaginação popular e várias obras de ficção, Chica da Silva foi uma escrava que se fez rainha utilizando sua beleza e apetite sexual invulgares para seduzir pessoas poderosas, entre as quais João Fernandes, cuja fortuna dizia-se ser maior do que a do rei de Portugal.

Biografia
Era filha da escrava Francisca da Silva e de um português chamado Antônio Caetano de Sá. A sua certidão de batismo foi registrada no arraial de Milho Verde, na cidade de Serro Frio, atual município do Serro, Minas Gerais. Segundo a maior parte dos autores, sua mãe era africana da Costa da Mina, embora outros digam que ela era crioula da Bahia.

Foi escrava do sargento-mor Manuel Pires Sardinha, médico e proprietário de lavras no arraial do Tijuco. Nesta época teve pelo menos um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751, que teve como padrinho de batismo o então Capitão dos Dragões do Distrito Diamantino, Simão da Cunha Pereira, em homenagem ao qual recebeu o nome. O registro de batismo deste filho não declara a sua paternidade, mas Manuel Pires Sardinha deu-lhe alforria e nomeou-o como um de seus herdeiros no seu testamento, daí o uso do mesmo sobrenome.

Simão Pires Sardinha foi educado na Europa e veio a ocupar cargos importantes no governo da Corte. Embora não haja comprovação, alguns autores pretendem que ele teria tido parte na Inconfidência Mineira.

Em seguida, Chica da Silva foi vendida ou dada como escrava a José da Silva e Oliveira Rolim, o padre Rolim. Este personagem foi, posteriormente, condenado a prisão pela importante participação que teve na Inconfidência Mineira. Também veio a viver com Quitéria Rita, uma das filhas de Chica da Silva e João Fernandes.

Pouco tempo depois, em 1753, João Fernandes de Oliveira chegou ao arraial do Tijuco para assumir a função de contratador dos diamantes, que vinha sendo exercida por seu pai homônimo desde 1740. Em 1754, Chica da Silva foi adquirida, ou alforriada, pelo novo contratador de diamantes João Fernandes com o qual passou a viver sem que nunca tenham se casado oficialmente.

O casal Chica da Silva e João Fernandes teve treze filhos durante os quinze anos em que conviveu: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Todos foram registados no batismo como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época quando os filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do pai.

Entre 1763 e 1771, João Fernandes e Chica da Silva habitaram a edificação existente atualmente na praça Lobo de Mesquita, 266, em Diamantina.

A união consensual estável de João Fernandes e Chica da Silva não foi um caso isolado na sociedade colonial brasileira de envolvimento de homens brancos com escravas. Distinguiu-se por ter sido pública, intensa e duradoura, além de envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico.

Os amantes separaram-se em 1770, quando João Fernandes necessitou retornar a Portugal para prestar contas de sua administração à frente do Contrato dos Diamantes e para cuidar de receber os bens deixados em testamento pelo pai. Ao partir, João Fernandes levou consigo os seus quatro filhos homens. Em Portugal, os filhos homens de Chica da Silva receberam educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam títulos de nobreza.
Chica da Silva ficou no arraial do Tijuco com as filhas e a posse das propriedades deixadas por João Fernandes, o que lhe garantiu uma vida confortável. Suas filhas receberam a melhor educação que se dava às moças da aristocracia local naquela época, sendo enviadas para o Recolhimento das Macaúbas onde aprenderam a ler, escrever, calcular, coser e bordar. Dali, só saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.

Apesar de ser uma concubina, Chica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e usufruiu das regalias privativas das senhoras brancas. Na época, as pessoas se associavam a irmandades religiosas de acordo com a sua posição social. Chica da Silva pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, que eram exclusivas de brancos, mas também às irmandades das Mercês - composta por mulatos - e do Rosário - reservada aos negros. Portanto, Chica da Silva tinha renda para realizar doações a quatro irmandades diferentes, era aceita como parte da elite local composta quase que exclusivamente por brancos, mas também mantinha laços sociais com mulatos e negros por meio de suas irmandades.

Apesar disto, como era costume da época, logo que foi alforriada passou a ser dona de vários escravos que cuidavam das atividades domésticas de sua casa.

Faleceu em 1796. Como era costume na época, Chica da Silva tinha o direito de ser sepultada dentro da igreja de qualquer uma das quatro irmandades a que pertencia. Foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de Assis pertencente a mais importante irmandade local, um privilégio quase que exclusivo dos brancos ricos, o que demonstra que mantinha a condição social mais alta mesmo vários anos após a partida de João Fernandes para Portugal.

O jornalista Antônio Torres em seus apontamentos sobre Diamantina contou que o corpo de Chica da Silva foi encontrado alguns anos após sua morte, intacto, conservando ainda a pele seca e negra.

Mitos
Chica da Silva foi esquecida por longo tempo depois de sua morte. Em 1860, o advogado Joaquim Felício dos Santos foi contratado para cuidar da partilha da herança de uma neta de Chica da Silva. Por isto teve que pesquisar os antigos documentos das propriedades deixadas pelo contratador João Fernandes, descobrindo então a história familiar dos dois amantes.

Em 1868, Joaquim Felício dos Santos publicou a obra Memória do Distrito Diamantino na qual se conta pela primeira vez a história de Chica da Silva. Sem nenhuma fonte histórica, talvez influenciado pelo racismo da época, Joaquim Felício dos Santos descreveu Chica da Silva como uma mulata alta, corpulenta, boçal e careca cujo poder de sedução era incompreensível.

A obra Memória do Distrito Diamantino teve uma nova edição em 1924, na qual Nazaré Menezes inseriu notas defendendo a beleza de Chica da Silva, argumentando que, de outra forma, ela não poderia ter agradado tanto ao rico contratador João Fernandes. Na mesma época, os apontamentos sobre Diamantina escritos pelo jornalista Antônio Torres atraíram a atenção de historiadores, escritores e do público em geral para a história de Chica da Silva.

A partir de então, Chica da Silva tornou-se então um personagem mítico, cujas histórias não comprovadas, improváveis ou impossíveis são mais conhecidas do que sua biografia real.

Em 1963, a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro venceu a disputa do carnaval carioca com o enredo de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona sobre Chica da Silva. Vários mitos foram recontados no filme de Carlos Cacá Diegues, Xica da Silva, de 1976, que foi um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema brasileiro. Mais recentemente, o mesmo aconteceu com a novela televisiva Xica da Silva da Rede Manchete, estrelada por Taís Araújo. Todos estes sucessos foram obras de ficção feitas para atender ao público ansioso por boas histórias e com pouca base nos fatos históricos.

Alguns mitos que se desenvolveram com base em obras de ficção ou histórias populares são, que Chica da Silva:

Tinha um invulgar apetite sexual que utilizou para seduzir vários homens poderosos. A vida de Chica da Silva, antes da união com João Fernandes, não foi diferente da de quase todas outras escravas que não podiam escolher seus parceiros. Além disto, a longa união com João Fernandes, com quem gerou uma grande prole, mostra que ela foi mesmo a matrona de uma grande família. Não há informações sobre outros casos amorosos depois da partida de João Fernandes, o que teria causado atritos na sociedade profundamente conservadora da época.

Tinha crueldade ímpar, sendo apelidada de Chica Mandona e de Chica que manda à época.

Utilizava o medo para obter a saciedade de seus luxos e prazeres. Não há registros históricos que confirmem este fato.

Pediu que o contratador João Fernandes construísse um palácio com vinte e um cômodos, onde havia um jardim com plantas exóticas e cascatas artificiais. Como não conhecia o mar, João Fernandes mandou formar um lago artificial. Mandou ainda construir um navio à vela, com capacidade para dez pessoas, que navegava no lago transportando os convidados das grandes festas que oferecia à sociedade local. Essas festividades eram animadas por uma orquestra particular e pelas apresentações de um teatrinho de bolso.

A Chácara de Chica da Silva, no bairro da Palha, era uma das residências mais luxuosas, mas não ultrapassava os padrões da região à época. Comparando como padrões europeus da época, era uma habitação quase rústica. Apesar de rica, era discriminada pelo círculo social mais elevado. Considerada como concubina, estava impedida de freqüentar os templos católicos. Desse modo, teria erguido uma capela, hoje desaparecida, anexa à residência, dedicada a Santa Quitéria, apenas para o seu uso privativo.

Está provado que Chica da Silva pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, exclusivas das pessoas brancas e ricas, e que foi enterrada na igreja da primeira. A construção de capelas particulares era um hábito comum na época e pode ainda ser visto em várias fazendas do século XIX.

Para não ter o seu sono perturbado pelo dobrar dos sinos da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, erguida em 1765 com o auxílio do contratador João Fernandes, Chica da Silva teria imposto a mudança de posição da torre. Efetivamente, trata-se da única igreja em estilo barroco no Brasil que possui a torre sineira atrás da nave central. Fato tão singular necessitava de alguma explicação, nem que fosse lendária.

Criou a receita do Xinxim da Chica, um dos mais conhecidos da culinária mineira, ou este era seu prato preferido. Francisca era um dos nomes mais usados na época tanto por escravas como por senhoras. Portanto, existiram muitas outras "Chicas" cozinheiras ou senhoras.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chica_da_Silva