quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cazuza
Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, (Rio de Janeiro, 4 de abril de 1958 — Rio de Janeiro, 7 de julho de 1990) foi um famoso cantor, compositor e poeta brasileiro que ganhou fama como o vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho. Cazuza é considerado um dos melhores compositores da música brasileira, sendo nacionalmente denominado o poeta do rock brasileiro. Sua parceria com Roberto Frejat é criticamente aclamada como uma das melhores do rock brasileiro. Dentro suas composições famosas junto ao Barão Vermelho estão "Todo Amor Que Houver Nessa Vida", "Pro Dia Nascer Feliz", "Maior Abandonado", "Bete Balanço" e "Eu Queria Ter Uma Bomba".
Cazuza tornou-se um dos maiores ícones da música brasileira durante o século XX. Entre seus sucessos musicais destacam-se "Exagerado", Codinome Beija-Flor", "O Nosso Amor A Gente Inventa", "Ideologia", "Brasil", "Faz Parte Do Meu Show" e "O Tempo Não Pára".
Cazuza também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico, tendo declarado em entrevistas que era bissexual. Ele foi o primeiro artista brasileiro a declarar publicamente ser soropositivo e sucumbiu a doença em 1990, no Rio de Janeiro.


Infância e adolescência
Filho de João Araújo, produtor fonográfico e de Maria Lúcia Araújo (mais conhecida como Lucinha Araújo), costureira. Cazuza recebeu o apelido mesmo antes do nascimento. Seu avô paterno era de Pernambuco e 'Cazuza' significa moleque na Região Nordeste. Recebeu o nome do avô, Agenor. Cazuza sempre renegou seu nome e só mais tarde quando descobriu que um de seus compositores prediletos, Cartola também se chamava Agenor é que Cazuza começou a aceitar o seu nome.
Cazuza sempre teve contato com a música, influenciado desde pequeno pelos fortes valores da música brasileira, ele tinha preferência pelas músicas dramáticas e melancólicas, como as de Cartola, Dolores Duran, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa e Maysa.
Cazuza cresceu no bairro de Ipanema e estudou no Colégio Santo Inácio. Como os pais ás vezes saíam á noite, o filho único ficava na companhia da avó materna. Por volta de 1965, ele começou a escrever letras e poemas que se mostrava á avó.
Pelo trabalho do pai, Cazuza cresceu em volta dos maiores nomes da Música Popular Brasileira como Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Gilberto Gil, João Gilberto, Novos Baianos, entre outros. Sua mãe, Lucinha Araújo, também cantava e gravou três discos.
Em 1972, tirando férias em Londres conhece as canções de Janis Joplin, Led Zeppelin, e dos Rolling Stones, e logo tornou-se um grande fã.
Cazuza fez vestibular para Comunicação em 1976, mas desistiu do curso três semanas depois. Mais tarde ele começou a freqüentar o Baixo Leblon, onde levou uma vida noturna boêmia. João Araújo cria um emprego para ele na gravadora Som Livre, da qual foi o fundador e era o presidente. Na Som Livre Cazuza trabalhou no departamento artístico, onde fez triagem de fitas de novos cantores. Logo depois trabalhou na assessoria de imprensa, onde escreveu releases para divulgar os artistas.
No final de 1979 ele fez um curso de fotografia na Universidade de Berkeley em São Francisco, Estados Unidos. Lá descobriu a literatura da Geração Beat, que mais tarde teria grande influência em sua carreira.
Em 1980 ele retornou ao Rio de Janeiro, onde ingressou no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone no Circo Voador. Lá, foi observado pelo então novato cantor/compositor Léo Jaime que o indicou a uma banda de rock que procurava por um vocalista, o Barão Vermelho.


Barão Vermelho
O Barão Vermelho, que até então era formado por Roberto Frejat (guitarra), Dé (baixo), Maurício Barros (teclados) e Guto Goffi (bateria), gostou muito do vocal berrado de Cazuza. Em seguida, Cazuza mostrou à banda letras que havia escrito e passa a compor com Roberto Frejat, formando a dupla de compositores Frejat/Cazuza, uma das melhores já vista no rock brasileiro. Dalí para frente, a banda que antes só tocava covers passa a criar um repertório próprio.

Barão Vermelho e Barão Vermelho 2
Após ouvir uma fita demo da banda, o produtor Ezequiel Neves convence o diretor artístico da Som Livre, Guto Graça Mello, a gravar a banda. Juntos convencem o relutante presidente da Som Livre, João Araújo (pai de Cazuza), a lançar a banda.
Com uma produção barata e gravado em apenas dois dias é lançado em 1982, o primeiro álbum da banda, Barão Vermelho. Das canções mais importantes, destacam-se "Bilhetinho Azul", "Ponto Fraco", "Down Em Mim" e a obra-prima "Todo Amor Que Houver Nessa Vida". Apesar de ser aclamado pela crítica o disco vendeu apenas 7 mil cópias.
Depois de alguns shows no Rio de Janeiro e em São Paulo, a banda voltou ao estúdio, e com uma melhor produção gravou o disco Barão Vermelho 2, lançado em 1983. Esse disco vendeu 15 mil cópias, mais que o dobro do primeiro álbum. Nesse período, Caetano Veloso apontou Cazuza como o maior poeta de sua geração e critica as rádios por não tocarem a banda. Na época as rádios só tocavam pop brasileiro e MPB. Só depois que Ney Matogrosso regrava com sucesso "Pro Dia Nascer Feliz", é que as rádios passam a tocar a versão original do Barão Vermelho.

Maior Abandonado e Rock In Rio
A banda é convidada a compor e gravar o tema do filme Bete Balanço. "Bete Balanço" torna-se o maior sucesso da banda, impulsionando o filme que vira sucesso de bilheteria. A canção também impulsionou as vendagens do terceiro disco do Barão, Maior Abandonado lançado em outubro de 1984, que conquistou disco de ouro. O álbum conta além de "Bete Balanço", dos sucessos "Maior Abandonado" e "Por Que a Gente é Assim?".
Em 15 e 20 de janeiro de 1985, Cazuza se apresenta na primeira edição do Rock in Rio (o maior e mais importante festival da América do Sul) com o Barão Vermelho. No primeiro dia são os únicos artistas brasileiros a não serem vaiados pelos fãs de heavy metal. A apresentação da banda no primeiro dia tornou-se antológica por coincidir com a eleição do presidente Tancredo Neves e com o fim da ditadura. Cazuza anuncia esse fato ao público presente e para comemorar ele cantou "Pro Dia Nascer Feliz" envolto na bandeira do Brasil. Nesse mesmo ano Cazuza é infectado pelo vírus da SIDA/AIDS, precipitando seu desejo em deixar a banda a fim de ter liberdade para compor e se expressar, musicalmente e poeticamente. Em julho de 1985, durante os ensaios do quarto álbum, Cazuza deixou o Barão Vermelho para seguir carreira solo.

Exagerado e Só Se For A Dois
Cazuza causa polêmica ao declarar em entrevistas ser bissexual. Em agosto de 1985, Cazuza é internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, para ser tratado por uma pneumonia. Cazuza exigiu fazer um teste de HIV, do qual o resultado foi negativo. Em novembro de 1985 foi lançado seu primeiro álbum solo, Exagerado. "Exagerado", a faixa-título composta em parceria com Leoni, se torna um de seus maiores sucessos e marca registrada do cantor. Também destacam-se "Mal Nenhum" (composta em parceria com Lobão) e a obra-prima "Codinome Beija-Flor". A música "Só As Mães São Felizes" é vetada pela censura.
Cazuza gravou seu segundo álbum no segundo semestre de 1986. Como a Som Livre terminou com o seu cast, Só Se For A Dois foi lançado pela PolyGram (agora Universal Music Group) em 1987. Logo depois a PolyGram contratou Cazuza. Só Se For A Dois mostra temas românticos como "Só Se For A Dois", "O Nosso Amor A Gente Inventa (Uma História Romântica)", "Solidão Que Nada" e "Ritual".


Ideologia e O Tempo Não Pára
A SIDA/AIDS (doença da qual sofria desde 1985) volta a se manifestar em outubro de 1987. Cazuza é internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, para ser tratado por uma nova pneumonia. Um novo teste revela que o cantor é portador do vírus HIV. Em seguida, ele é levado pelos pais aos Estados Unidos. Lá Cazuza é submetido a um tratamento a base de AZT durante dois meses no New England Hospital de Boston. Ao voltar ao Brasil no começo de dezembro de 1987, Cazuza inicia as gravações para um novo disco. Ideologia de 1988, inclui os hits "Ideologia", "Brasil" e "Faz Parte Do Meu Show". "Brasil" em versão de Gal Costa foi tema de abertura da telenovela Vale Tudo da Rede Globo.
Seus shows se tornam mais elaborados e a turnê do disco Ideologia, dirigido por Ney Matogrosso, viaja por todo o Brasil. O Tempo Não Pára, gravado no Canecão durante esta turnê, é lançado em 1989. O disco se tornou seu maior sucesso comercial superando a marca de 500 mil cópias vendidas. A faixa "O Tempo Não Pára" torna-se um de seus maiores sucessos. Também destacam-se "Todo Amor Que Houver Nessa Vida", "Codinome Beija-Flor" e "Faz Parte Do Meu Show". O Tempo Não Pára também foi lançado em VHS Vídeo pela Globo.

Burguesia
Em fevereiro de 1989, Cazuza é o primeiro artista a declarar publicamente que era soropositivo, ajudando assim a criar consciência em relação a doença e seus efeitos. Cazuza comparece na cerimônia do Prêmio Sharp de cadeira de rodas, onde recebe os prêmios de melhor canção para "Brasil" e melhor álbum para Ideologia.
Burguesia (1989), foi gravado com o cantor numa cadeira de rodas e com a voz nítidamente enfraquecida. É um álbum duplo de conceito dual, sendo o primeiro disco com canções de rock brasileiro e o segundo com canções de MPB. Burguesia é o último disco gravado por Cazuza e vendeu 250 mil cópias. Cazuza recebeu o Prêmio Sharp póstumo de melhor música com "Cobaias de Deus".


Morte
Em outubro de 1989, depois de quatro meses a base de um tratamento alternativo em São Paulo, Cazuza parte novamente para Boston, onde ficou internado até março de 1990.
No dia 7 de julho de 1990, Cazuza morre aos 32 anos por um choque séptico causado pela SIDA/AIDS. No seu enterro compareceram mais de mil pessoas, entre parentes, amigos e fãs. O caixão, coberto de flores e lacrado, foi levado à sepultura pelos seus ex-companheiros do Barão Vermelho, Roberto Frejat, Maurício Barros, Dé, Guto Goffi e o produtor Ezequiel Neves. Cazuza foi enterrado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Sobre seu túmulo está inscrito o epitáfio: "O Tempo Não Pára".


Legado
Em apenas nove anos de carreira, Cazuza nos deixou 126 canções gravadas, 78 inéditas e 34 para outros ínterpretes.
Após a morte de Cazuza, seus pais fundaram a Sociedade Viva Cazuza em 1990. A Sociedade Viva Cazuza tem como intenção proporcionar uma vida melhor à crianças soropositivas através de assistência à saúde, educação e lazer.
Em 1997, a cantora brasileira Cássia Eller lançou o álbum Veneno AntiMonotonia, que traz somente composições de Cazuza.
As canções de Cazuza já foram reinterpretadas pelos mais diversos artistas brasileiros dos mais diversos genêros musicais.
A Som Livre realizou o show Tributo a Cazuza em 1999, posteriormente lançado em CD e DVD, do qual participaram Ney Matogrosso, Barão Vermelho, Kid Abelha, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Arnaldo Antunes e Leoni.
No ano 2000 foi exibido no Rio de Janeiro e em São Paulo o musical Cazas de Cazuza, escrito e dirigido por Rodrigo Pitta, cuja história tem base nas canções de Cazuza.
Em 2004 foi lançado o filme biográfico Cazuza - O Tempo Não Pára de Sandra Werneck.

Álbuns carreira solo:
1985 - Exagerado
1987 - Só Se For A Dois
1988 - Ideologia
1988 - O Tempo Não Pára (ao vivo)
1989 - Burguesia
1991 - Por Aí (póstumo)
2005 - O Poeta Está Vivo - Ao Vivo no Teatro Ipanema em 1987 (póstumo)
Álbuns com o Barão Vermelho:
1982 - Barão Vermelho
1983 - Barão Vermelho 2
1984 - Maior Abandonado
1992 - Barão Vermelho ao vivo (No "Rock In Rio I")

Falando o que pensa!
“Os marginais estão mais perto de Deus. Toda ovelha desgarrada ama mais, odeia mais, sente tudo mais intensamente, embora eu mesmo não me sinta assim. Talvez eu seja mais burguês do que transmito em minhas músicas. Eu convivo com essas pessoas e o que faço é uma espécie de defesa deles “.

“Quando a Brasiliense começou a lançar as obras de Kerouac, Ginsberg, Borroughs, eu quase fiquei pirado, porque eu fazia algo ligado a eles e não sabia. Penso que os anos 50 têm muito a ver com os anos 80. Era uma época de repressão que se soltou lá pela década de 60 como agora”.
Folha de São Paulo, 14/março/1986

“Hoje sei que vendo meu bacalhau, mas meu lance mesmo é a poesia, que eu mastigo e vomito no público”.
Playboy, março/1985

“Quando pintou o Barão eu tinha tudo para não dar certo. Nunca fui cantor, eu gostava de compor “.
Playboy, março/1985

“Meu trabalho é totalmente intuitivo. Nunca estudei canto, dança, nada… eu sou rouco: eu birito, não tenho nenhum cuidado com a voz. Não faço nenhum exercício. Meu exercício é no palco”.

Eu me considero um autodidata mesmo. A mis-en-scêne, tem muita coisa que a gente imita dos outros. Pego um pouquinho ali do Caetano, um pouquinho do Ney, um pouquinho do Mick Jagger, os ídolos da gente”.

“Eu acho que tenho essa ironia, esse deboche sim. É uma autodefesa, porque as pessoas são fogo mesmo. Então a gente tem que jogar um pouco com o deboche, com o cinismo para não se machucar. Mas no meu trabalho mesmo, nas minhas letras, nas minhas entrevistas, eu levo tudo bem à sério… Cantar é a coisa mais séria que eu faço, que mais me faz feliz. O trabalho é uma coisa importante. A pessoa que não encontra algo que a realize, vira uma ameba”.
“Sou muito sincero e às vezes até me arrependo disso. Se estou batendo um papo com um jornalista, eu estou sendo eu o tempo todo. Não tenho uma armadura… Agora, de certa maneira, depois da entrevista da Playboy, toda entrevista que faço, acabam batendo nessa tecla do homossexualismo, da droga. É uma coisa até que resolvi não falar mais, porque aí é a minha vida particular. Agora, tudo que falei ali reforço e assino em baixo”.

“Não me sinto minoria, nunca me senti… Eu tenho horror a gueto. Quero viver num mundo diferente. Quero viver num mundo em que todo mundo conviva igual… Não faria parte de um gueto, nunca. Eu não gosto de andar só com preto, só com judeu, só com viado. Eu gosto de viver é com todo mundo junto. É uma experiência que eu tenho de vida. Me sentiria muito mal em levantar bandeira de qualquer coisa que fosse muito específico, portanto não quero levantar bandeira de minorias. Acho que a coisa tem que ser maioral”.

“Artista e censura são incompatíveis. O artista tem é que cantar, escrever, compor, pintar. Sei lá, acho que o papel do artista é muito ligado ao plano etéreo, ao plano da fantasia, ao plano da poesia”.

“É o cúmulo prender um garoto inteligente, que faz faculdade, que é futuro do Brasil, só porque foi pego com um baseado. É um absurdo internar esse garoto num lugar onde vai ficar tomando remédio… Tem que haver leis mais liberalizantes para isso. É claro que o Brasil tem coisas muito mais sérias para resolver. Mas é uma coisa que afeta a mim que sou classe média, burguês. O que eu acho bacana na política da Democracia ocidental é isso. É pocê poder votar no cara que vai tentar resolver o seu problema mais imediato… Eu falo de cadeira porque já fui preso várias vezes. É maior a violência contra o jovem. O jovem está sempre experimentando coisas novas, que às vezes são até passageiras”.
Correio Braziliense, Irlam Rocha Lima, 10/junho/1985

“Adoro quando as fãs rasgam minhas roupas. Me sinto o próprio Cauby Peixoto”.
Contigo, Walterson Sardenberg e Fernando Rocha, 01/julho/1985

“O rock é a idéia da eterna juventude. Quando descobri o rock, descobri também que podia desbundar. O rock foi a maneira de eu me impor às pessoas sem ser o “gauche” - porque de repente, virou moda ser louco. Eu estudava num colégio de padre onde, de repente, eu era a escória. Então quando descobri o rock, descobri a minha tribo: ali eu ia ser aceito! E rock para mim não é só música, é atitude mesmo, é o novo! Quer coisa mais nova que o rock? O rock fervilha, é uma coisa que nunca pode parar. O rock não é uma lagoa é um rio. O rock é a vingança dos escravos. É porque não é para ser ouvido, é para ser dançado, é uma coisa tribal. Rock é simplesmente uma batucada. O rock brasileiro é fazer gracinhas, é contar piada. O que a gente tem de forte no rock brasileiro é o “agá” que a gente leva”.
“O Caetano (Veloso) rebolava e fazia tudo para chocar João Gilberto. E aí, então, a gente tem que chocar os ídolos da gente”.

Bizz, setembro/1985

“Eu sou muito diferente do pessoal do Barão. Sou mais velho, mais louco, mais boêmio: eles são mais saudáveis, acordam cedo, não fazem loucuras”.

“Eu tenho um ego muito grande, não conseguiria dividir um palco ou um disco”.

“Só as mães são felizes é uma homenagem às pessoas que vivem o lado escuro da vida, aquelas que preferiram trocar o escritório pela rua, que resolveram viver e escrever a vida”.

“Eu sou capaz de viver o lixo e o luxo da vida, me sinto tão bem num botequim ou no Hippopótamus”.

“Eu nunca precisei lutar pela vida, e tenho inveja de amigos meus que batalharam, passaram mal e conseguiram conquistar coisas por esforço próprio”.

“Eu sou um inadimplente”.

“Eu prefiro ser visto como um letrista; é mais a minha cara”.
Folha de São Paulo, Marcos Augusto Gonçalves, 15/11/1985

“Eu sou o rei da declaração”.

“Você é bissexual? Eu digo que sou. Quem é seu ídolo? Eu conto. É um defeito. Acabo ficando com fama de bêbado, homossexual e maluco…”.

“Não tenho luxos. Não sou de beber champanha no Hippopotamus. Meu luxo é tomar um Teacher’s no Baixo Leblon e comprar um papel de vez em quando”.

“Supermãe perde perto dela. A do Ziraldo é penico perto da minha”.

“Amor demais não atrapalha. Um filho rejeitado nunca conserta a cabeça. Um superprotegido tá limpo”.

“Os jovens de hoje são bem caretas. Eu preferia ter vivido nos anos 60. Mas já que vivo na época de agora, posso pelo menos falar mal dela”.

“Levo uma vida burguesa. Mas sei que o Brasil vai mal, que tem gente morrendo de fome, que o Papa é um bobo e que o comunismo não está com nada”.


” Sou meio ufanista, mas a miséria, a máfia e o FMI mataram o orgulho da gente”.

“Não me considero um cantor. Levo legal o meu lero. Sou afinado. Mas não passo de um letrista que canta, que gosta de palco. No palco, me sinto o cara mais gostoso do mundo. Fora dele, fico meio indeciso, perdido…”.
Jornal do Brasil, Artur Xexéo, 17/11/1985

“Meu primeiro disco solo é um trabalho onde eu estou me expondo muito, quis mudar um pouco a temática. Na época do Barão Vermelho eu era tido como o letrista que cantava fossa, a dor de cotovelo… Este disco está um pouco mais para cima, tem músicas onde olho menos para o umbigo. Neste disco, eu quis fazer homenagens a poetas que gosto, está um trabalho diferente. Tem uma música bem romântica de uma separação, mas que não é dor de cotovelo. Tem músicas desesperadas, mas é um desespero mais universal, não é aquela coisa de dor a dois”.
“Eu tenho vários lados. O lado escuro é um lado muito forte, porque sou muito boêmio, vivo muito de noite. Gosto muito da noite, acho que ela é um espaço, um território livre para tudo. Não sei… a noite é muito dramática, muito bonita. As pessoas que saem na noite, procuram algo que na verdade não vão encontrar, mas elas curtem a procura, aquele papo furado. Gosto muito de sol, também, de praia”.


“O Rock da Descerebração foi feito para a peça UBU Rei, uma peça muito louca, porque o Jarry foi o primeiro punk, o primeiro beatinik. Ele e o Rimbaud, aquele pessoal todo do fim da virada do século que subverteram toda a caretice da época”.

“Sou um cara que ouve muita música brasileira. Eu não conheço os grupos lá de fora, não conheço o rock internacional. Conheço Janes Joplin, blues, Stones, Beatles. Estou super por fora do new wave, pós-punk, etc. Sou um cara mais ligado nas coisas daqui do que nas de fora. Então, minha influência do rock veio a partir de Rita Lee, Jovem Guarda, Raul Seixas. Eu me coloco dentro de um rock que já está sendo feito há muito tempo, um rock mais genuíno”.

“Acho que o sucesso é uma coisa muito perigosa. Não me deixo seduzir por ele. Eu nunca me deixei fascinar por transa de fãs me agarrando, porque sei que é uma coisa de momento… Tento ser coerente com o meu tarbalho e mais nada. Não me deixo seduzir por mordomias de sucesso: ‘casacos de vison num dia, no outro trapos’, tipo Billie Holiday”.
Correio Braziliense, 25/novembro/1985

“Sempre fui ligado em carros e meu prazer era encher o automóvel com a turma e ir para fora. Mesmo tendo carro, desejava ganhar uma moto e ficava com um ódio dos meus pais, porque davam o contra. Hoje, não ligo para carros, nem para motos”.

“Já andei fazendo análise e descobri que era apenas para entrar na moda. Alugava amigos para me escutarem e era uma coisa bem solitária. Um dia descobri como transar o sexo e, embora tenha problemas, passei a me entregar às emoções sem sentimento de culpa. Hoje posso amar uma mulher ou um homem com mais intensidade e meus pais aceitam o filho que tem numa ótima”.

“Gosto muito de fazer meu mapa astral, e outro dia disseram que meu melhor período da vida ia dos 28 aos 35 anos. Esse seria o tempo de grandes acontecimentos e tudo indica que vai ser bom mesmo. Por isso, adoro previsões”.

“Quando esfrento as luzes do palco, há quem jure que meus olhos chegam a ficar verdes. Me defendo com esta postura”.

“Gostaria de ter uma família. Fazer a minha família, o que deve ser muito bom. Mas, não me considero capaz de dar segurança a uma família. Vivo só meu delírio e, quando me sentir forte o bastante, quero ter um filho e ser um pai legal. Os problemas do mundo existem porque os pais não deram colo para seus filhos e eu queria muito mais colinho”.

“Espero que, no futuro, não esqueçam do poeta que sou. Que as pessoas não se esqueçam de que, mesmo num mundo eletrônico, o amor existe. Existe o romance e a poesia. Que mais crianças venham a nascer e é fundamental o amor aos pais”.
Amiga, 04/dezembro/1985

“Quando eu era garoto, queria ser um grande arquiteto e só me interessava em ficar fazendo mapinhas da cidade, traçando ruas e desenhando edifícios. Essa mania acabou quando resolvi fazer vestibular e percebi que não dava para matemática. Como fazia mapas, fazia poesia às escondidas de meus pais, porque era um romântico, um cara cheio de dores-de-cotovelo”.

“Meus pais foram muito compreensivos quando comecei a dizer em entrevistas que era bissexual. Só achavam que eu estava exagerando, me expondo, mas esse é o papel deles. Se há alguma coisa errada, é comigo. Procuro as respostas através da vida. Quando ficar velhinho e morrer, ninguém vai mais lembrar deste meu lado. Só a música vai ficar. É só isso que o público vai levar do Cazuza”.

“Ser filho único, por um lado, é bom; por outro, não. Meu pai e minha mãe, por força da vida profissional, tinham que frequentar a vida boêmia - o que acabei herdando deles também - e me deixavam sempre com a minha avó materna. Ela era uma mulher fantástica, muito louca, aberta e deixou um grande buraco na minha vida quando morreu. Fiquei sozinho, sem um irmão para dividir comigo as alegrias e mágoas. Não tive coragem de me abrir com meus pais sobre minha vocação poética, porque pensava que iam dar o contra. Então, com minha avó, discutia versos, rimas. Ela foi a pessoa que mais influiu na minha infância e adolescência. Meu pai e minha mãe não eram repressores. Já aos 13 anos, tinha a chave de casa e o carro de meu pai para dirigir”.


“Não consigo encontrar alguém que me entenda e, a essa altura, já não sei dividir mais nada, muito menos apartamento. Já não tenho saco pra ser cobrado de nada e dificilmente as mulheres entendem que gosto de ficar sozinho com meus versos, escutando música ou simplesmente em silêncio. Já cheguei a viver com uma e não deu certo. Sempre fui um cara certinho, sem as rebeldias dos jovens atuais. Claro que algumas vezes dava minhas fugidinhas de casa, mas sempre voltava como um bom menino”.

“A minha música faz parte de uma história que começou quando o meu avô, dono de um engenho em Pernambuco, resolveu morar em cima do areal do Leblon ( Rio de Janeiro ), como terceiro morador da região. Ali nasceu meu pai, João Araujo, que se casou com uma moça linda, Lucinha, que cantava como um passarinho. Uma mulher que se tornou importante no cenário musical e que teve, numa das primeiras novelas da televisão, sua gravação da música Pelo vazio, de Cartola, incluída na trilha sonora. Gostava de vê-la cantando e penso que isso influi muito no meu futuro”.
Amiga, 04/dezembro/1985

“Exagerado é um disco agressivo, mas eu acho que a gente tem que ser agressivo, porque estamos numa época muito agressiva, a direita está agressiva. Fiz análise 2 anos e tenho uma coisa edipiana mesmo, e de Electra também… a minha ligação é forte com os dois, meu pai pelo lado da vida, e com a minha mãe pelo lado mágico. Minha mãe é mais uma coisa energética, cósmica, meio louca, ela entende tudo o que eu faço, não explico mais, pro meu pai eu já explico”.

“A história das drogas está na Bíblia, é o pão e o vinho, um é o alimento e o outro é a imaginação. Eu, pelo menos, sou uma pessoa que precisa disto, quero tanto o pão como o vinho, a realidade e a fantasia. Tenho respeito por todas as religiões, o candomblé, tudo…”.

“O Brasil precisa de muita força de seu povo. O único país da América Latina que está com a cabeça erguida é Cuba, que fez uma revolução contra um poder enorme. A gente tá muito de cabeça baixa… FMI, o brasileiro que em N.Y. fica querendo falar inglês bem porque lá é a capital do mundo; não tem nada disso, a gente tem que ter orgulho de ser brasileiro, sul americano, ter brilho nos olhos”.

“Eu não pirei com os Beatles, não dava muita importância, via como uma coisa meio histérica. Mas adorava também. Cantava Help! numa língua que inventei… Só quando pintou Caetano com Alegria, Alegria é que achei aquilo moderno. Gal cantando “a cultura, a civilização, elas que se danem…” Macalé e a ‘morbideza romântica’ de Wally Salomão. Rock eu conheci mesmo através do Caetano e da Tropicália, Os Mutantes, Rita Lee, Novos Baianos. Com 13 anos, eu estava lá no pier de Ipanema; ficava de tiete, de longe, tentava apresentar uns baseados pra eles, mas ninguém pedia”.Manchete, Antonio Carlos Miguel, 07/dezembro/1985
Fonte:

Um comentário:

giudelollo disse...

cazuza foi só um burgues, rico e mimado